— 31/03/2016

Retratos de um desastre

Evento promovido pelo IEA Polo São Carlos discute as consequências do rompimento da barragem da Samarco em Minas Gerais

Quatro meses após o rompimento da barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco, no município de Mariana (MG), o desastre que espalhou rejeitos de minério ao longo de todo o curso do rio Doce ainda está em andamento. Milhares de pessoas tiveram suas vidas alteradas em função da lama: populações ribeirinhas perderam seu principal meio de subsistência e a captação de água em diversos municípios foi prejudicada.

Para discutir os efeitos da tragédia, que se estendem não apenas à questão ambiental, o Instituto de Estudos Avançados Polo São Carlos da USP realiza no dia 31 de março o debate “O Vale do rio Doce: um desastre em andamentoâ€. O evento reunirá quatro debatedores e um moderador com diferentes experiências no tema.

Marcelo Tramontano e Luciano Costa, docentes do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, vão abordar a experiência de viajar por áreas afetadas pela passagem da lama. Marcelo percorreu em cerca de dez dias o trajeto de Mariana (MG) até Regência, distrito de Linhares (ES), onde fica a foz do rio Doce. Durante a viagem, entrevistou moradores da região para a produção de um documentário. “O desastre trouxe à luz os graves problemas gerados pelas atividades de mineração, não restritos a Mariana, mas para todas as populações, inclusive a fauna e a flora, ao longo de todo o rio Doce, até o marâ€, afirma Tramontano.

Já Luciano priorizou cidades pequenas e estradas vicinais, buscando estar o mais próximo possível do rio Doce e seus afluentes durante todo o percurso. Ele e o docente da Faculdade de Direito do Sul de Minas (FDSM) e da Universidade do Vale do Sapucaí (Univás) Rodrigo Lazzarotto Simioni passaram pelos distritos de Camargos e Paracatu de Baixo (destruído pela lama), e pelos municípios de Barra Longa e Rio Doce, descendo até Resplendor, próximo à divisa com o Espírito Santo, chegando, por fim, a Regência.

“Através das fotografias realizadas, nossa perspectiva é trazer um conjunto de impressões relativas à cultura local, ao Vale do Rio Doce e às corporações econômicas que atuam na região, para além do desastre ocorrido. A ‘lama’, em meu entender, permitiu restabelecer um vínculo esquecido entre essas corporações econômicas e o Vale enquanto espaço geográfico, frequentemente tratado apenas como fonte de recursosâ€, explica Luciano.

Já o docente da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Reinaldo Duque Brasil tem a experiência de conviver de perto com o problema. Além de ser especialista na Bacia do Rio Doce, ele leciona no campus da UFJF em Governador Valadares, uma das cidades que teve o abastecimento de água suspenso em virtude da passagem da lama.

A mesa de debatedores será completada pelo docente da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP) Eduardo Mario Mediondo, que é coordenador-geral do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (Cemaden/MCTI). O moderador será o docente do IAU-USP Marcel Fantin, autor do livro “Agregados Minerais, Meio Ambiente e Urbanização na Perspectiva das Políticas Públicas Canadenses: Províncias de Ontário e Québecâ€, sobre políticas públicas canadenses na área de agregados minerais e a inserção do setor da mineração no processo de planejamento ambiental, urbano e regional.

O evento tem apoio do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP São Carlos e será realizado no Auditório Jorge Caron, no campus 1 da USP, em São Carlos, a partir das 19h. As inscrições devem ser feitas pelo e-mail ieasc@sc.usp.br ou pelo telefone (16) 3373 9177. Também haverá transmissão on-line pelo site www.iea.usp.br/aovivo.